Valor científico

O Lajedo de Soledade, que antes era conhecido como Letreiros de Soledade, está entre os maiores sítios arqueológicos do Brasil, reconhecido hoje no mundo inteiro, especialmente pela comunidade científica. Porém, há menos de 50 anos, a região da Chapada do Apodi, onde está localizado, era apenas um local ideal para extração de pedra calcária para fabricação de cal e calçar as ruas da cidade de Apodi. Ou seja, não se reconhecia o valor científico, histórico e cultural das áreas rochosas chamadas Urubu, Araras e Olho D'água.

A primeira é conhecida por Urubu por ter formações rochosas escuras, pontiagudas e várias cavernas. A segunda, por ter gravuras feitas há centenas de anos, muitas parecidas com araras, nas áreas abertas pela força das águas no decorrer dos séculos. A terceira, por ter olho d'água aflorando em várias partes. Nas três são encontrados ossos calcificados de animais que viveram há mais de 100 milhões de anos.

Maria Auxiliadora, lembra que, no período de 1966 a 1978, por diversas vezes tentou convencer os moradores da localidade que sobreviviam da quebra de pedras sobre a importância de preservar aquele patrimônio. Em vão. Em 1978, conseguiu um grande reforço na sua luta. Tornou-se professora, e a sala de aula passou a ser sua tribuna de defesa do lajedo. Ela convencia as crianças a falar com os pais para não destruir o lajedo. Esse trabalho hoje tem continuidade com Adailton Targino que nasceu na comunidade de Soledade, foi o primeiro guia do lajedo e é o atual presidente da FALS.

Dodora continuou sozinha na luta até 1987, quando o Geólogo Geraldo Gusso da Petrobrás visitou o local. O Lajedo ficou conhecido como "a poesia de pedra". "Eu sabia que o professor Vingt-un Rosado havia feito pesquisas, mas esse pesquisador não levantou a bandeira do local. Os geólogos Geraldo Gusso e Eduardo Bagnoli foram os primeiros a pesquisar de fato o lajedo. Foram eles quem ajudaram na demarcação de 10 hectares das áreas de formação rochosa com maior valor científico e cultural, em 1988", conta Dodora, que na década de setenta já se pensava no local para desenvolver a região a partir do turismo ecológico ou científico.

De 1990 a 1993, através do geólogo Eduardo Bagnoli, a Petrobras passou a investir no local. Construiu museu, capacitou 10 (dez) guias com destaque para o 1º guia Adailton Targino que estagiou na Biblioteca da Petrobrás e no Museu Câmara Cascudo em Natal e ajudou Dodora a criar a Fundação Amigos do Lajedo de Soledade (FALS) para administrar os recursos. Em 2001, começou a implantação da segunda etapa do projeto, que consistiu em capacitar os moradores a produzir artesanato e foi construído o CAL (Centro de Atividades do Lajedo).

Mesmo sem um posto policial ou estrutura de saúde adequada, o Lajedo de Soledade recebeu mais de 80 mil pessoas de 1993 a 2009. O presidente da FALS Adailton Targino conta que mais de 90% das pessoas que visitam o Lajedo são estudantes secundaristas e universitários do Rio Grande do Norte, Ceará, Paraíba e Pernambuco. "Em média, recebemos de 600 a 700 visitas/mês. Temos estrutura para receber até dois mil/mês, se for feita reserva", conta o guia Cláudio Sena, lembrando que hoje o principal aliado da FALS pela preservação do Lajedo é a comunidade.